Pastor Reneo Ficher
Introdução ao novo Testamento parte 1
Introdução
É fácil distorcer o que o Espírito
nos diz nas escrituras. Pedro adverte-nos acerca disso, II Pd. 3.15-18.
15 e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como
igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe
foi dada, 16 ao
falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas
epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e
instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria
destruição deles. 17 Vós,
pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que,
arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; 18 antes, crescei na graça
e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória,
tanto agora como no dia eterno.
II Pd. 3.15-18
HISTÓRIA
O Velho Testamento encerra-se com os
filhos de Israel sob a dominação dos persas. No Novo Testamento, a Palestina é
subserviente aos romanos. A história política que denota esta mudança incide em
quatro partes: o período persa, o período grego, o período macabeu ou hasmoneu
(o período da independência) e o período romano.
O PERÍODO PERSA (538-331 a.C.)
O reino do norte de Israel havia sido
conquistado pelos assírios em 722
a.C. sob a liderança de Sargão. Seus habitantes foram
então deportados para a Assíria (II Reis 17:6) e para outras terras
conquistadas. Por sua vez, os povos de outras nações conquistadas foram então
importados, para povoarem a área conhecida como Samária. A política dos
assírios foi tentar destruir todo vestígio de linhagem nacional e, assim, unir
todos os povos num só.
Em
612 a.C.,
os babilônios, liderados por Nabopolassar, destruíram Nínive e conquistaram os
assírios. O reino do sul, Judá, caiu nas mãos dos babilônios, sob
Nabucodonozor, em 605 a.C.,
e alguns da família real e líderes abastados foram levados cativos para a
Babilônia. Entre estes, estavam Daniel e os três jovens de Daniel 1. Uma curta
rebelião em 597 a.C.
foi suprimida, servindo de pretexto para outra deportação (incluindo Ezequiel).
Uma revolta ainda posterior, conduzida por Zedequias, foi suprimida em 587 a.C., com a destruição
completa do Templo e deportação de todos, exceto algumas poucas pessoas pobres,
para evitar que o país se tornasse um deserto.
O
"cativeiro babilônico" não foi tanto um cativeiro como um exílio. O
propósito das deportações não foi tanto destruir as linhagens nacionais (como
foi a política assíria), mas punir aqueles que se opunham ao governo.
Permitiu-se aos cativos uma parcela de liberdade, e eles podiam eleger seus
próprios líderes em suas comunidades. Muitos desses exilados se tornaram
líderes no governo babilônico (Dan. 1:20; 2:48,49; 3:30; etc.), e bem
poderosos. Esses exilados estavam começando a encontrar seu ponto forte real nos campos da indústria e
do comércio. A tendência que se iniciou na Babilônia tornou-se mais
desenvolvida nas gerações posteriores, até que, durante os tempos do Novo
Testamento, as comunidades judaicas eram primariamente urbanas e comerciais, em
vez do meio agrícola e pastoral
do Velho Testamento.
Durante
esse período o nome judeus
entrou em uso. Ele denotava o povo da nação conquistada de Judá. Os outros
termos usados no Velho Testamento para referência aos descendentes de Abraão e
Isaque tornaram-se menos usados, e o termo judeus entrou em uso quase que
exclusivamente.
Origem
da Sinagoga ("reunidos juntos")
Estando
tão longe de Jerusalém, e sem ter o Templo de Salomão e o Tabernáculo para
cultuar, o povo exigiu dos sacerdotes um modo temporário de retenção do
conhecimento de Jeová. Assim, surgiram os grupos de adoradores que se reuniam
regularmente para ouvir a lei lida, uma palavra de exortação ou explicação, o
cântico de salmos e a recitação das orações. Esses grupos formaram os
primórdios da instituição que deveria posteriormente ser conhecida com o nome
grego de "sinagoga" ("reunidos juntos"). A intenção, a
princípio, era que a sinagoga fosse apenas uma coisa temporária, até que a
volta a Jerusalém pudesse ser feita e o Templo, reconstruído. Contudo, a
importância da sinagoga como força coesiva na unificação dos judeus numa
comunidade foi gradualmente reconhecida e aceita universalmente pelos líderes
religiosos. Ela não somente era o meio para ensino da lei e dos profetas,
mas também um meio para ajudar os judeus a reterem sua identidade nacional.
Foi
durante essa época e através desses grupos que Ezequiel realizou seu
maravilhoso ministério. De seu trabalho e profecias, os cativos foram ensinados
que a calamidade veio sobre eles por causa da idolatria. Nas sinagogas, isso
foi ensinado à tamanha extensão que a idolatria foi abandonada e não mais era
um grande problema para os judeus.
Na
sinagoga surgiu a importante função de mestre. Homens com percepções
excepcionais na lei foram recrutados para liderarem nessa importante posição. O
mestre podia, ou não, ter sido da linhagem sacerdotal. O ensino regular da
Torah levou a uma ênfase renovada sobre o sábado, a circuncisão e o jejum.
Algumas influências sutis das religiões da Babilônia e da Pérsia foram
introduzidas nas instruções religiosas dadas pela sinagoga. Estas podem ser
vistas nas doutrinas em desenvolvimento acerca da vida depois da morte,
angelologia e demonologia.
Ciro
Ciro,
tendo unido as nações da Média, Lídia e Pérsia, capturou a Babilônia em 538 a.C. e confirmou muitos
dos judeus em suas posições ,de autoridade governamental (ver Dan. 6:1 e ss.).
A política oficial dos persas era permitir o povo deslocado voltar para as
terras de seus pais. Por causa dessa política, a restauração de Judá foi
possível. Contudo, a maioria dos judeus estava feliz na Babilônia e não
desejava voltar. Cerca de 50.000 retornaram, sob a liderança de três homens, em
três épocas diferentes. Os que ficaram os apoiaram com doações.
Zorobabel,
um príncipe da linhagem real de Davi, conduziu a primeira volta em 535 a.C. Após alguma
consolidação do poder, foi iniciada a reconstrução do Templo. Sob a pregação de
Ageu e Zacarias, o Templo de Zorobabel foi terminado e dedicado em 516 a.C. Inferior em
esplendor ao de Salomão, esse Templo existiu até que Herodes, o Grande, iniciou
a obra de um maior, em 19 a.C.
Os adversários da reconstrução do
Templo eram uma combinação daqueles que foram deixados após as deportações sob
os assírios e babilônios — os povos trazidos para povoar o país — e os inimigos
anteriores dos dois reinos de Israel e Judá, que, em sua ausência, tiveram
oportunidade de estender seus limites de influência. Os descendentes do
casamento misto desses grupos foram denominados "samaritanos". Era
lógico que esse povo ia opor-se à volta e restauração dos judeus (ver Esd. 4:1
e ss.).
Uma segunda volta ocorreu sob
Esdras, em 485 a.C.
Uma terceira foi liderada por Neemias, em 445 a.C. Começando com Esdras e continuando
através do trabalho de Neemias e Malaquias, foram iniciadas reformas, que
deveriam ter resultados de longo alcance. Uma vez que os persas não iriam
tolerar a restauração da realeza davídica, o oficial mais alto, politicamente
era o sumo sacerdote. Esse homem respondia, de uma maneira geral, ao governador
persa. Esse ofício resultou eventualmente em "reis-sacerdotes".
Igualmente, era necessário obter a aprovação do governador persa para eleger-se
o sumo sacerdote.
No final do Velho Testamento,
Eliasibe era o sumo sacerdote (445-430 a.C.). Seu sucessor, Jeoiada (430-405 a.C.), teve dois filhos,
Jonatã e Josué. Próximo à morte dos pais, ambos os filhos disputaram
abertamente pelo oficio. O governador persa, Bagoses, foi persuadido a aprovar
Josué, embora Jonatã fosse o herdeiro legal, de acordo com a lei de Moisés.
Como resultado, Josué foi morto por seu irmão entre os muros do templo. O
governador persa indignou-se e se moveu contra Jerusalém. Contudo, ele ficou
satisfeito pela arrecadação de um imposto contra os sacrifícios do Templo
durante os sete anos seguintes.
Jonatâ,
sumo sacerdote de 405-359 a.C,
também teve dois filhos (Jadua e Manasses). Jadua foi o sucessor no sumo
sacerdócio e distinguiu-se por guardar com zelo as reformas e instituições,
conforme restauradas por Esdras e Neemias. Não podendo exercer o ofício ocupado
por seu irmão, Manassés casou-se com a filha de Sambalate, o horonita. Esse
tipo de casamento era fortemente condenado por todos os judeus fiéis. Removido
do sacerdócio, Manassés viu seu sogro desejando construir um templo rival no
monte Gerizim. Manassés seria o sumo sacerdote e todos os samaritanos iriam adorar
lá. Muitos judeus renegados também adorariam ali. Dessa maneira o cisma entre
os judeus e os samaritanos foi alargado.
Durante todo o período persa, os
judeus foram excepcionais em sua lealdade ao rei persa. Isto pode ter ocorrido
porque havia mais judeus na Babilônia do que na Palestina. Somente cerca de
50.000 judeus haviam voltado à sua terra natal durante esses duzentos anos.
Muitos dos judeus tinham altas posições de autoridade e alguns desfrutavam de
grande riqueza. Mesmo uma judia tornou-se a esposa do rei (Est. 2). Esses
judeus que estavam na Babilônia exerceram uma influência muito grande sobre
seus patrícios na Palestina, através de seus poderes políticos e suas
contribuições financeiras.
O
PERÍODO GREGO (331-167 a.C.)
Em
336 a.C.,
quando Jadua era o sumo sacerdote, Filipe II da Macedônia foi assassinado
quando fazia planos para invadir a Pérsia. Seu filho, Alexandre, sucedeu-o com
a idade de 20 anos. Ele uniu toda a Macedônia e a Grécia e, em 334 a.C., atravessou o
Helesponto, para libertar as colônias gregas da Ásia Menor. Com apenas 35.000
homens, Alexandre derrotou três generais de Dario III, em Granico, em 334 a.C., após passar uma
noite sem dormir e ter tido uma visão de um ancião, que o aconselhava a
continuar sua luta contra os persas. No ano seguinte, 333 a.C., Alexandre outra vez
derrotou um grande exército em Issus. Somente após esta vitória Alexandre se
pôs a sonhar com a conquista do mundo.
Atravessando ele os montes Tauros,
distrito após distrito caiu diante do exército grego. Josefo tem uma
interessante história do encontro de Alexandre com Jadua. Alexandre disse que
Jadua era o homem do sonho. Por esta razão, os judeus foram tratados com
respeito e obtiveram muitas das mesmas vantagens dos gregos. Parece que
Manassés também recebeu a aprovação de Alexandre na construção do templo no
monte Gerizim. Foi a política de Alexandre fazer amigos dos conquistados
sempre, quando e onde possível.
Depois
de conquistar o Egito, Alexandre partiu para o leste, contra Dario. Em
Guagámela (Arbela), em 4 de outubro de 331 a.C., Alexandre derrotou o exército inteiro
dos persas e Dario III foi morto (provavelmente por um de seus próprios
homens). Alexandre quis ir mais para o leste, mas seus generais e exército
recusaram-se a cruzar o rio Indo. Estabelecendo-se na Babilônia, Alexandre
organizou seu império em satrápias. Cada uma destas era uma colônia de gregos,
geralmente constituída de seus soldados. Através deste tipo de colonização e
inter-relação com os nativos, a cultura e a língua gregas começaram a
espalhar-se através do Império.
Alexandre morreu em 323 a.C., com a idade de 32
anos. Sua maior consecução não é considerada ser seu gênio militar (por grande
que fosse). Ele é lembrado principalmente por sua qualidade de estadista. Ele é
responsável pela fusão do Ocidente com o Oriente. Derrubando a parede que
estava entre o Oriente e o Ocidente, ele foi capaz de abrir as portas do
comércio. Através da propagação do idioma grego, a língua franca, o mundo
capacitou-se para a comunicação. A cultura grega quebrou as barreiras raciais,
sociais e nacionais. A miscigenação das raças estimulou um espírito de
cosmopolitanismo, um sincretismo religioso e um interesse no indivíduo. A
duradoura contribuição de Alexandre para a civilização mundial dificilmente
pode ser sobrestimada ou imaginada.
Os
Ptolomeus e o Egito (321-198 a.C.)
Depois da morte de
Alexandre, o Império caiu nas mãos de seis de seus generais. Laomedon tomou
posse da Síria, Ptolomeu Lagus (Soter) recebeu o Egito, e a Babilônia caiu nas
mãos de Seleuco. Os outros três tinham a ver com os judeus. Dentro de dois
anos, Ptolomeu e Seleuco derrotaram Laomedon, e os dois generais dividiram o
território da Síria. A Palestina ficou sob o controle de Ptolomeu.
Alexandria, planejada por Alexandre
e seu arquiteto, tornou-se a capital e logo o centro liderante da cultura
grega. Soter iniciou uma biblioteca que, na época de seu filho Ptolomeu
Filadelfo (285-277 a.C.),
tornou-se a maior do mundo antigo. Desejando ter uma cópia, em sua biblioteca,
de cada livro conhecido (traduzido para o grego), Filadelfo solicitou o sumo
sacerdote Eleazar para providenciar a tradução das Escrituras hebraicas. A
tradução resultante, a Septuaginta (LXX), tornou-se as Escrituras para a
comunidade judaica de fala grega.
Durante esse período, a Palestina
estava experimentando uma helenização gradual e pacífica. Ela foi exposta à
atração do modo de vida grega na língua, na arte, no comércio, na liberdade e
na alegria de seus festivais e jogos. Houve uma dispersão voluntária pelo mundo
grego afora. A política dos Ptolomeus era conceder aos judeus direitos civis
iguais aos dos macedônios.
Os Selêucidas e a Síria (198-167 a.C.)
Durante todo o tempo da dominação ptolomaica na Palestina,
os reis selêucidas da Síria estiveram olhando gananciosamente a área rica em
ferro e outros metais. Os judeus da Palestina eram um "futebol"
político entre os dois países poderosos. Devido a casamentos mistos e
complicações políticas, Antíoco III (o
Grande) marchou contra Ptolomeu Epifânio, em 198 a.C. Na Batalha de
Panéias, o exército egípcio, sob a liderança de Escopas, foi derrotado. Os
judeus parecem terem recebido Antíoco de braços abertos.
Em 192 a.C., ocorreu um evento
que iria ter implicações políticas de longo alcance. As duas grandes ligas
gregas, sempre em guerra uma com a outra, convidaram os sírios e os romanos a
tomarem partido. Este é o primeiro aparecimento dos romanos como potência mundial.
Em 190 a.C.,
na Batalha de Magnésia (entre Sardes e Esmirna), os romanos, sob a liderança de
Cornélio Cipião (Scipio Asiaticus), derrotaram Antíoco. Ele teve que pagar uma
indenização tremenda, entregar sua marinha e elefantes de guerra, enviar um
filho como refém para Roma, desistir de todos, exceto dez, de seus navios
mercantes (e não construir mais),e não devia fazer guerra contra nenhum dos
aliados de Roma. Ao tentar levantar fundos para a dívida, ele recorreu ao roubo
dos templos de seu Império. Em uma de suas viagens, na parte oriental de seu
território, os guardas e sacerdotes do templo o mataram (187 a.C.).
Seleuco IV herdou o trono e a
grande dívida de seu pai. Ele seguiu uma política mal orientada em seu
tratamento com os judeus. Como resultado, seu tesoureiro, Heliodoro,
assassinou-o em 175 a.C.
e tentou tomar o trono. Contudo, o irmão de Seleuco, que havia sido enviado a
Roma como refém, retornou a Antioquia a tempo de se apoderar do trono.
Antíoco IV (Epifânio) passara doze
anos em Roma como refém. Ele foi saturado com a cultura grega e o legalismo
romano. Ao voltar, determinou unificar o Império, estabelecendo o politeísmo
grego como religião estatal. Ele não iria tolerar nenhuma oposição aos seus
planos. O único curso de ação, para ele, era forçar o povo, por todo o seu
domínio, a aceitar a cultura grega. Através do sumo sacerdócio corrupto, em
Jerusalém, os judeus mais influentes a princípio estavam bem simpáticos à
helenização.
Sob o pretexto de resolver um
problema de casamento (a irmã era casada com Ptolomeu), Antíoco invadiu o Egito
em 169-8 a.C.
Jerusalém soube que ele fora morto e a cidade ardeu de exultação. Houve também
alguma disputa sobre duas facções, que tentavam conseguir o sumo sacerdócio.
Antíoco soube dessa disputa e, pensando que a Palestina estava em revolta
contra ele, voltou e, entrando em Jerusalém, matou 40.000 e roubou o santuário.
Retornando ao Egito, para prosseguir sua conquista ali, ele encontrou Laenus, o
embaixador romano. O Egito era um aliado de Roma.
Forçado
a deixar o Egito em vergonha e ignomínia, Antíoco voltou para casa através da
Palestina. Ele culpou os judeus por sua falha em tomar o Egito. Mais uma vez
entrando em Jerusalém, ele sacrificou um porco no altar, um altar dedicado a
Zeus foi colocado no Templo e as cópias da lei foram confiscadas e destruídas.
A pena por se ter uma cópia da lei e praticar-se a circuncisão era a morte.
Qualquer observância do sábado foi declarada ilegal. No mês de dezembro de 168 a.C.,o sacrifício do
Templo cessou. A "abominação da desolação" referida em Daniel 9:27
ocorrera.
O
PERÍODO MACABEU OU HASMONEU (167-63
a.C.)
Conforme diz o 1 Macabeus 1:56-64 :
"Quanto aos livros da Torá, os que lhes caíam nas mãos eram
rasgados e lançados ao fogo. Onde quer que se encontrasse, em casa de alguém,
um livro da Aliança ou se alguém se conformasse à Torá, o decreto real o
condenava à morte. Na sua prepotência assim procediam, contra Israel, com todos
aqueles que fossem descobertos, mês por mês, nas cidades. No dia vinte e cinco
de cada mês ofereciam-se sacrifícios no altar levantado por sobre o altar dos
holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus filhos, eles,
cumprindo o decreto, as executavam com os mesmo filhinhos pendurados a seus
pescoços, e ainda com seus familiares e com aqueles que haviam operado a
circuncisão. Apesar de tudo, muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram
irredutíveis em não comerem nada de impuro. Eles aceitaram antes morrer que
contaminar-se com os alimentos e profanar a Aliança sagrada, como de fato
morreram. Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre Israel".
A princípio a resistência dos
judeus foi somente passiva. A medida que a perseguição aumentava em intensidade
e os fogos da adoração de Deus queimavam cada vez mais baixo, iniciou-se a
resistência ativa. A liderança para a organização da resistência ativa começou
com um sacerdote, na cidade de Modin, situada entre Jerusalém e Jope. Matatias
era da linhagem de um certo Asamoneu ou Chasmon (Hasmon). É deste último nome
que a família tirou seu nome, hasmoneu. Estando avançado em idade, Matatias
teve cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e Jonatã.
Judeus de toda a Palestina,
insatisfeitos com as políticas de helenização de Antíoco Epifânio e o
sacerdócio corrupto, vieram a responder à chamada às armas. Muito antes, os
hasidim ou assideus (zelotes da lei) uniram-se a Matatias. Após um ano e a
morte do pai, a liderança do exército passou a Judas, Simão servindo como
conselheiro principal. Judas provou ser um general capaz e levou o nome de
Macabeu ("Martelador"). Depois de uma série de brilhantes vitórias,
ele entrou em Jerusalém e rededicou o Templo, em 25 de dezembro de 165 a.C.
A Festa de Chanucá.
"No dia vinte e
cinco do nono mês - chamado Casleu - do ano cento e quarenta e oito, eles se
levantaram de manhã cedo e ofereceram um sacrifício, segundo as prescrições da
Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído. Exatamente no
mês e no dia em que os gentios o tinham profanado, foi o altar novamente
consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos (…) E Judas, com
seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias da dedicação
do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito dias, a partir
do dia vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria". (1 Macabeus
4:52-54,59)
Não contente com simplesmente uma
forma de liberdade religiosa em Jerusalém, Judas quis conseguir a liberdade
política igualmente. Seus seguidores devotos (os hasidim), contudo, se opuseram
a este plano ambicioso e o abandonaram. Com apenas 600 em seu exército, Judas
foi morto na Batalha de Elasa, em 161
a.C. Muitos judeus sentiram-se ofendidos quando Judas
apelara a Roma por ajuda (I Mac. 8:17-32).
Jonatã, irmão de Judas, tornou-se o
líder da revolta, e, numa série de brilhantes manobras políticas, foi designado
sumo sacerdote, e os judeus receberam liberdade religiosa. Mediante a morte de
Jonatã, Simão, o filho mais velho de Matatias, assumiu a liderança e o sumo
sacerdócio. Em 142 a.C.,
a astuta política diplomática de Simão foi recompensada com independência
política completa.
De
142 a.C.
a 63 a.C.,
a nação judaica esteve mais uma vez independente. Os príncipes que se seguiram
a João Hircano I (filho de Simão) não tinham o espírito de patriotismo corajoso
e auto-sacrificial que havia marcado os antigos macabeus, e eles se degeneraram
em procuradores de posição e intriga política dentro da família. Irmão contra
irmão, filho contra mãe, até no final de uma disputa, foi apelado à força
romana e, com a intervenção dos romanos, a nação judaica tornou-se uma
província romana.
O PERÍODO ROMANO (63 a.C. — 135 d.C.)
Sob Herodes, o Grande (63-4 a.C.)
Com a morte da rainha
Alexandra Salomé, em 69 a.C.,
tanto o poder político como o religioso passaram para as mãos de um filho muito
brando, João Hircano II. Seu irmão, Aristóbulo II, era muito ambicioso. Hircano
foi persuadido a desistir do trono, mas reteve o ofício de sumo sacerdote.
Aristóbulo logo cobiçou essa posição também. Antípater, um idumeu e conselheiro
de Hircano, viu uma oportunidade de jogar um irmão contra o outro. Tomando o
partido do irmão mais fraco, ele persuadiu Hircano que sua vida estava em
perigo, e, assim, foi feito apelo a Pompeu, general romano. Em 63 a.C., Pompeu entrou em
Jerusalém e decidiu em favor de Hircano. Contudo, a Judéia ficou sob o controle
romano, e Antípater foi designado procurador, e Hircano, como sumo sacerdote.
Antípater designou seu filho Fasael, governador da Judéia, e seu filho Herodes,
governador da Galiléia.
Após a morte de Antípater e Fasael,
Herodes recebeu de Antônio e Otávio, em 40 a.C., o título de "Rei dos
Judeus". A nação da Judéia, contudo, ainda era uma parte da província
romana da Síria. Hircano II permaneceu como sumo sacerdote por um certo tempo,
mas finalmente foi despedido (depois que Herodes casou-se com sua neta Mariamne),
e este ofício tornou-se outra vez sujeito ao maior arrematador.
Herodes, o Grande, foi um
intermediário eficaz entre os romanos e os judeus. Embora os judeus o odiassem,
por ser um estranho e estar sob os romanos, Herodes persuadiu estes a
concederem vários privilégios àqueles. Ele manteve a nação em paz com Roma.
Tentando ganhar o apoio dos judeus, Herodes entrou num ambicioso programa de
construção, eliminou os bandos errantes de salteadores, e, em geral, trouxe
prosperidade à Judéia. Ele era, contudo, um homem muito ciumento e cheio de
suspeitas. Um de seus maiores empreendimentos foi a reconstrução do Templo,
iniciada em 19 a.C.,
e ainda estava em progresso 46 anos mais tarde (João 2:20).
A vida familiar de Herodes foi
muito infeliz e cheia de intrigas entre suas dez esposas, seus filhos e seus
próprios irmãos e irmãs. Quando ele morreu, havia feito e mudado sua vontade
várias vezes. Alguns de seus filhos ele matou, bem como a sua amada Mariamne.
Foi durante seu reinado e por causa de preocupação ciumenta por sua posição que
ele ordenou a matança das crianças ao redor de Belém, após o nascimento de
Jesus.
Sob os Procuradores (4 a.C. —
70 d.C.)
Como
seus herdeiros não puderam controlar a Judéia, esta passou para o governo
romano direto, através dos odiados procuradores.
De 6 a
66 d.C., não menos que 14 homens foram enviados à Judéia para governar os
negócios. Geralmente esses homens eram aqueles com quem o imperador romano
tinha uma dívida. Era uma posição lucrativa, e esses homens estavam mais
interessados em se tornarem ricos do que em serem bons governadores.
De
tempos em tempos os judeus expressavam sua insatisfação e os choques
inevitáveis surgiam. Esses grupos reacionários aumentaram em número a tal
ponto, e os procuradores se tornaram tão implacáveis em suas políticas que a
revolta aberta irrompeu-se em 66 d.C. Este foi o começo da Guerra
Judaico-Romana de 66-70 d.C. Jerusalém foi tomada pelos romanos, sob a
liderança de Tito, o Templo destruído, e o sacrifício ordenado por Moisés foi
cessado até o dia presente. A nação judaica cessou de ser uma nação, e o
judaísmo sofreu um golpe tremendo.