REVELAÇÕES DE ISAÍAS CAPITULO 49
Esta secção está especialmente ligada a Isaías 42:1-7, onde fora
primariamente anunciada a missão do servo do Senhor. Tal missão será
corajosamente levada a cabo para instrução, consolo e conforto de Israel,
representado como afundado no desespero, já que se considera irremediavelmente
abandonado por Deus. No capítulo presente, Javé reitera que a missão do Seu
servo terá definitivamente lugar, para alívio de Sião.
Em relação ao Seu servo, Javé...
·
Chamou-o desde o ventre;
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Fez menção do seu nome;
·
Fez da sua boca uma "espada aguda";
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Cobriu-o com a sombra da Sua mão;
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Fez dele uma "flecha penetrante";
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Apontou-o como Seu servo;
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Comissionou-o não só para recuperar Israel, mas também para ser a luz
dos gentios, estendendo a salvação de Deus até aos confins do mundo;
·
Vai ajudá-lo;
·
Vai, através dele, libertar os cativos e causar alegria em qualquer
parte do céu ou da terra.
Todas estas coisas não poderiam ser ditas acerca de uma pessoa
aleatória; trata-se de alguém muito específico, escolhido pessoalmente por
Deus.
Versículo 1
Agora que importantes declarações se vão fazer acerca da missão do servo
de Javé, o mundo inteiro é convocado a escutar, já que o assunto é do interesse
de todos. A frase "o Senhor me chamou desde o ventre" não pode
aplicar-se a Isaías; afinal, a sua vocação profética só ficou assente durante a
idade adulta . Cristo, porém, recebera uma missão e o seu nome quando estava
ainda no ventre da sua mãe (ver Mateus 1:21 e Lucas 1:31-33).
Versículo 2
A experiência cristã comprova que um poder cortante e intenso, semelhante
ao de uma aguçada flecha, se aplica aos ensinamentos de Jesus, cujas palavras
perfuram o coração e se enraízam na alma, não podendo ser esquecidos. Javé
manteve Jesus sob a sombra da Sua mão, quer por o proteger da malícia, quer
para reservar a sua existência oculta até ao momento certo. Como "flecha
perfurante", Jesus manteve-se guardado na aljava de Deus até que chegou o
momento para ser eficazmente lançado contra os corações iníquos dos homens.
Nota de um estudo anterior:
PROFECIA REFERENTE A JESUS: (Isaías 49:2)
"Tornou a minha língua semelhante a uma espada afiada, cobriu-me
com a sombra da sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-se na sua
aljava."
·
Em Salmo 127:4, lê-se: "Tais como as flechas nas mãos do guerreiro,
assim são os filhos gerados na juventude."
·
Assim, a flecha na aljava diz respeito a descendência. Se Jesus
era uma "flecha" na "aljava" de Deus, isto demonstra a sua
descendência divina.
Versículo 3
Que o "Israel" literal não é o sujeito deste versículo fica
bastante evidente no versículo 5. O "servo" de Deus é chamado de
Israel porque actuaria dali em diante como representante da nação renovada, e
faria jus a tal nome (que significa 'Príncipe com Deus'). O "servo"
permitiria purificar os homens e levá-los a glorificar a Javé com os seus
corações.
Versículo 4
O "servo" ficou momentaneamente desapontado, vendo os pequenos
resultados de todos os seus esforços na recuperação de Israel, e sentiu um
arrependimento natural e humano quanto ao trabalho despendido, aparentemente em
vão; contudo, esta sensação logo se dissipou graças ao pensamento de que Deus
nunca deixaria de recompensar um trabalho com tamanho mérito. Este versículo
faz transparecer a profunda humanidade do "servo", que sente aquilo
que os humanos comummente sentem, mas que não deixa os sentimentos controlar as
suas acções.
Jesus demonstrou emoções humanas de transtorno e desapontamento - ver
Mateus 23:37 e João 11:35.
Versículo 5
Muitos dos apóstolos de Jesus eram judeus; de facto, tudo o que era verdadeiramente
espiritual no judaísmo acabou por fluir para a Igreja de Cristo, sendo o
elemento judaico abundante e impossível de negar. Assim, o "servo"
viria a possibilitar a congregação de Israel.
Versículo 6
Deus recompensa os Seus servos proporcionalmente aos trabalhos que
realizam, já que É sumamente justo. Os múltiplos trabalhos de Jesus não seriam
insuficientemente recompensados caso Deus permitisse somente a conversão dos
judeus ("tribos de Jacob"). Assim, Javé concedeu-lhe como recompensa
a possibilidade de representar a salvação para todas as pessoas do mundo, sendo
a "luz dos gentios" até à "extremidade da terra".
Versículo 7
Este versículo representa a primeira vez em que é focado o desprezo a
que estaria votado o "servo" de Deus por parte dos homens. Existe
tamanho antagonismo entre o pecado e a santidade que os ímpios, em qualquer
momento da História, sempre detestaram as pessoas bondosas e virtuosas. Jesus
viria a ser tratado como escravo por parte de governantes irresponsáveis ("aos
que dominam"), como se depreende das acções de Herodes e Pôncio
Pilatos. Quando o Reino de Deus finalmente tomar lugar, porém, "reis"
e "príncipes" inclinar-se-ão na sua presença, reconhecendo a sua
elevada posição celestial. Em breve, os reis levantar-se-ão dos seus tronos,
prostrando-se diante do Messias, convencidos de que Javé É fiel no cumprimento
das Suas promessas, e que escolheu o filho de Maria para constituir o Redentor
há tanto tempo prometido.
Versículo 8
No tempo "favorável", decretado por Deus desde a criação do
mundo, Jesus estabilizaria a terra, concedendo-a àqueles que procuram conhecer
o Deus verdadeiro.
Versículo 9
Os "presos" não são aqui os cativos na Babilónia, mas sim os
escravos do pecado espalhados pelo mundo. Jesus conceder-lhes-ia completa
libertação, convocando-os para que deixassem o domínio das trevas, e
aparecessem no caminho do bem. Por fim, os "presos" recém-libertados
são representados como um rebanho de ovelhas, cujo Bom Pastor (Jesus) guiará
para locais com pasto abundante.
Versículo 10
A graça de Deus é suficiente para os Seus fiéis, que ficam contentes com
o sustento que Ele lhes providencia, não tendo "fome" ou
"sede". Estas pessoas passarão pelo desamparado deserto da vida sem
que o "sol" ou o calor as aflija, já que Deus se compadece dos seus
sofrimentos e dos obstáculos com que se deparam. Como Bom Pastor, irá á frente
do rebanho dos Seus fiéis, guiando-o em segurança.
Versículo 11
Nenhum obstáculo poderá impedir o retorno dos judeus à sua terra natal, pois
até os "montes" constituirão um "caminho".
Versículo 12
As nações fluirão de todos os lados até ao Reino do Redentor (ver, por
exemplo, Isaías 2:2). As referências feitas aos diferentes pontos cardeais e à
"terra de Sinim" destinam-se a englobar os gentios.
Versículo 13
Os céus e aterra são chamados para participar na grande alegria que o
povo de Israel sentirá quando finalmente gozar da consolação divina. Nos
escritos de Isaías, os "montes", ou montanhas, são frequentemente
introduzidas como uma das mais grandiosas obras de Deus, e por isso o profeta
espera que estejam prontos a simpatizar com o homem. Trata-se de um sentimento
naturalmente encontrado em alguém habituado à paisagem montanhosa da Palestina.
Versículo 14
Embora o futuro seja glorioso, tanto para o "servo" de Deus
como para o povo israelita, o presente está cheio de tristeza e miséria.
"Sião" - não a cidade, mas o povo de Deus - acredita ter sido
esquecida por Javé. Veremos mais tarde que esta súbita confissão de fraca fé
será perdoada pela compaixão de Deus, e Israel afligido gozará de imensa
consolação.
Não é surpreendente que Israel tenha por vezes desesperado durante os
longos anos do Cativeiro, já que estes foram bastante duros para a nação.
Versículo 15
A actualidade mostra-nos casos em que algumas mães tratam horrivelmente
os seus filhos, embora tal acto pareça antinatural. Deus, porém, tem pelas
pessoas um amor que ultrapassa qualquer afeição parental. Deus É amor na Sua
essência (I João 4:8); e o Seu amor infinito é mais profundo e verdadeiro do
que aquilo que o amor humano (finito) pode representar. Contudo, o sentimento
que à face da terra mais se assemelha ao amor de Deus É a afeição de uma mulher
para com os seus filhos (ver nova referência a este sentimento em Isaías
66:13).
Versículo 16
O profeta passa aqui da "Sião" viva, o povo de Israel, para o
seu lar material, Jerusalém. A metáfora que usa está indubitavelmente
relacionada com a prática de tatuar imagens nas mãos, braços ou demais partes
do corpo, usando hena ou outros pigmentos. No Oriente, os peregrinos costumavam
fazer tais marcas para comemorar as peregrinações bem sucedidas. Basicamente,
Isaías diz-nos que Deus pensava constantemente em Sião como se a sua imagem
estivesse gravada na palma das Suas mãos.
Versículo 17
Quando chegar o momento, os habitantes da cidade santa retornarão a este
local, reconstruindo o templo e as muralhas. Simultaneamente, os destruidores
de Jerusalém abandoná-la-ão para sempre.
Versículo 18
A Igreja restaurada, recebendo membros das várias nações, será como uma
noiva que se enfeita, ficando gloriosa e digna de ser contemplada.
Versículo 19
O versículo não pode ser entendido literalmente; afinal, após o retorno
do Cativeiro, a Palestina estava longe de ser sobrepovoada. Mesmo quando se deu
a conversão de gentios, não se verificou qualquer movimento de pessoas para a
Terra Santa. O objectivo da profecia é simplesmente evidenciar o vasto
crescimento da Igreja, que se iria necessariamente espalhar para lá das
fronteiras da Palestina, requerendo por fim o mundo inteiro como habitação.
Versículo 20
Os "filhos" da "orfandade" de Jerusalém são os
gentios que substituíram muitos dos judeus sem fé que se recusaram a retornar à
Palestina após o decreto de Ciro, perdendo-se para sempre da Igreja de Cristo.
Versículo 21
A igreja judaica pasma face ao influxo de gentios, perguntando-se de
onde provinham todas aquelas pessoas. Sabe perfeitamente que não podem ser seus
filhos verdadeiros, já que estivera cativa durante longos anos. É certo que a
igreja judaica não aceitou abertamente os recém-convertidos mas, gradualmente,
o Espírito Santo permitiu que tal dificuldade fosse ultrapassada.
Versículo 22
Os novos filhos - isto é, os recém-convertidos - provirão dos gentios.
Esta passagem costuma ser interpretada como focando o retorno dos judeus à sua
terra com o auxílio dos gentios - quer através do decreto de Ciro, quer num
momento futuro.
Versículo 23
Reis e rainhas colocar-se-ão ao dispor da Igreja, zelando pelos seus
seguidores. Assim, reconhecerão que a autoridade espiritual de Cristo é bem
superior à sua. Todos os que acreditarem com paciência e constância em tais
promessas jamais serão sujeitos a vergonha ou confusão - afinal, as promessas
mencionadas serão irremediável e indubitavelmente cumpridas.
Versículo 24
Os incrédulos no meio dos exilados pensavam ser totalmente impossível
retirar das mandíbulas da Babilónia a sua "presa", isto é, os cativos
cujo trabalho lhe era tão útil. Afinal, a Babilónia era poderosa, e pelas leis da
guerra tinha direito àqueles "presos"; como seria então aliciada a
libertá-los?
Versículo 25
A resposta à questão colocada no versículo anterior é que, embora a
Babilónia seja poderosa, Deus É-o ainda mais. Deus libertará o Seu povo da
opressão babilónica sem esforço aparente.
Versículo 26
Este versículo foca as desavenças civis que viriam a assolar a
Babilónia, tornando-a uma vítima fácil para as conquistas persas. Pesquisas
recentes referem que, no reinado de Nabodinus, que decidiu introduzir alterações
na religião nacional, várias tribos babilónicas lutaram ao lado dos invasores
persas contra os seus conterrâneos.
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